Quinze anos depois:
Viagem ao Médio Oriente
por João Gonçalves
editado por Martha Appelt
Em 2003, João Gonçalves e Marcelo Ribeiro embarcaram na aventura irrepetível de viajar pelo Médio Oriente, por terra. Consigo levavam pouca coisa, uma máquina digital e um guia lonely planet – Istanbul to Cairo on a shoestring.
Estes eram dias sem internet, sem telemóvel e sem selfie-sticks. A irmã de Marcelo criou-lhe a sua primeira conta de email antes da viagem e nenhum tinha telemóvel. Comunicações para casa só mesmo por cabines telefónicas.
Nessa altura, o Médio-Oriente estava relativamente calmo, comparado com a sua história passada e presente, e por isso, quando soube da existência deste diário de bordo não pude deixar de sentir que era a única forma de poder ter um resquício de uma ideia do que seria atravessar aquelas terras, conhecer aquelas gentes e respirar aqueles ares – quinze anos depois.
Porque esta viagem se tornou uma impossibilidade nos dias de hoje, desejo que ela aqui fique partilhada, para que, quiçá um dia, se abra a possibilidade de voltar a ser feita e se voltem a forjar amizades como as que nesta viagem se forjaram. O estilo punk da escrita de João é uma lufada de ar fresco e deixou-me entrar na viagem de uma forma descontraída e genuína, mas também me deu um ponto de referência para uma geração já extinta – a geração que viajou pelo mundo antes do fenómeno da internet. Por certo, o leitor apreciará a honestidade.
Agradeço ao João e ao Marcelo por tão generosamente partilharem das suas aventuras comigo, eu que gosto de viajar no terreno, mas que também me delicio a viajar com a imaginação.
Por Martha Appelt
Dia 1
(8 de Fevereiro de 2003)
– De Salónica a Istambul –
Partimos de Salónica num tó bastante aceitável e só com mais uma dúzia de pessoas. Bom de mais para ser verdade!
tó
substantivo masculino
Grande veículo automóvel de transporte colectivo de passageiros, urbano, rodoviário ou turístico. Também conhecido por autocarro, tócarro ou camioneta.
Dali a umas horas fui acordado por um velhote e por uma enorme quantidade de diferentes odores (baklava, doçaria turca). Era o início de uma série de feriados na Turquia relacionados com a celebração Eid al Adha, e os turcos residentes na Grécia estavam todos de abalada.
Um homem velho sentou-se ao meu lado, deu-me bolachas e caramelos e a mulher velha, ao lado do Marcelo, também teve direito às tais bolachas e caramelos. Foram 14 horas até Istambul. Chegamos lá às 16:00 e estava tudo cheio de neve.
A paragem dos autocarros (otogar) tinha mais de 170 escritórios das diferentes companhias. Conseguimos lugar num mini-bus e esperámos lá até às 19:00. Foi uma guerra para encontrar o tal mini-bus. Um turco a servir-nos de guia a perguntar onde estava o tal tó até que o encontrámos. Lá nos conseguimos enfiar em dois buraquinhos na parte de trás e levámos logo o banho ao pagar os bilhetes. Chularam-nos mais 5 milhões a cada. Mas o melhor foi não piar muito, pois não havia mais alternativas a não ser dormir em Istambul. Até agora, o pessoal só falava turco, mas todos falavam connosco. Sempre na boa, mas bué afastados no tó…
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